Texto apresentado na Disciplina de Teologia e Ministério – Pós Graduação em Teologia e Ministério
Os últimos 150 anos estão sendo um tempo de bastante confusão no conceito de casamento e família, tanto nos meios cristãos como fora dele. Comportamentos antes classificados como inadequados passaram a ser entendidos simplesmente como uma escolha pessoal, sem que possa ser feita alguma crítica, sob o risco de o comentário ser considerado quase um crime.
Apesar de a Bíblia ser bastante clara no que se refere ao papel do homem na sua família, os textos envolvendo a importância do casamento (Gênesis 2), a desgraça do divórcio (Malaquias 2), a vida em família (1 Pedro 2) e as necessidades de cada cônjuge (Efésios 5) são deixados para segundo plano, ficando o homem simplesmente como o papel de provedor financeiro.
Essa condição é muito favorável à tendência masculina à omissão e ao comodismo. O homem atual trata sua vida com Deus quase como uma questão de “foro íntimo”. Essa visão o leva a pensar que não precisa dar contas de sua vida a ninguém, e quando esse homem sente que está bem na sua relação com Deus, conclui que todo o resto está no seu devido lugar.
O homem da atualidade trata a sua vida com Deus (saúde espiritual) e o casamento (saúde emocional) da mesma forma como trata a sua própria saúde física, ou seja, sem nenhuma autocrítica. Esse comportamento o leva a somente procurar ajuda quando tem algum problema grave de saúde. Nesse ponto ele descobre que há anos está se alimentando (física, emocional e espiritualmente) de uma forma insatisfatória e sem os exercícios adequados (que no âmbito espiritual são as disciplinas espirituais).
Na teologia liberal o papel do homem é diminuído, uma vez que a Bíblia é vista como machista e patriarcal. O feminismo e o protagonismo feminino são exaltados. Arranjos familiares alternativos são aceitos por serem considerados mais adequados à sociedade e à realidade atual. Essa visão é alinhada com o método histórico crítico, onde textos importantes que se referem à família e ao papel do homem tem sua interpretação questionada, e tipicamente são associados à uma alegada visão limitada e machista dos redatores do primeiro século.
Curiosamente esse parece ser o principal ponto em que a teologia liberal conseguiu chegar até os bancos das igrejas. Tipicamente não há dúvidas sobre a divindade de Jesus, sua encarnação e seu sacrifício. Da mesma forma, não há questionamentos sobre a criação e realidade dos milagres. Porém as questões de família – e principalmente estas – são relativizadas e tidas como antiquadas, inadequadas. Temas envolvendo família, casamento, divórcio e questões de gênero são apresentados como “precisando de uma revisão”, uma vez que “o mundo moderno não tem espaço para esse tipo de pensamento”.
As teologias fundamentalista e evangelical restauram a autoridade do texto bíblico, visando o retorno aos conceitos que envolvem a chamada família tradicional. Porém, ainda falta um longo caminho até o retorno ao entendimento adequado do que a Bíblia fala sobre o casamento, uma vez que a sociedade está encharcada com a visão liberal. E é inevitável que isso acabe também afetando a igreja.
Na luta contra o machismo, o feminismo ultrapassa o limite de defender que a mulher tem direitos, indo ao extremo de que dizer que a mulher é melhor que o homem, que o homem é desnecessário, e que não é necessário um homem para que a família seja constituída. Esse pensamento – apesar de claramente contrário ao que está na Bíblia – aparece dentro das igrejas. Que o confirmem as líderes de curso “Design Divino”. Não é à toa que haja tantos divórcios dentro da igreja.
A restauração do papel da mulher no casamento se inicia pela restauração do papel do homem, e não o contrário. O marido deve entender que sua esposa tem necessidades específicas (Efésios 5, 1 Pedro 2). Quando o homem lê a Bíblia buscando entender o que Deus espera dele, ele vai chegar ao ponto de que ter uma espiritualidade saudável não é o suficiente.
A teologia evangelical aponta na direção de que a nossa relação com Deus deve transbordar a ponto de atingir a todos os que estão ao nosso redor. E as pessoas mais próximas são justamente a nossa família. O homem deve entender que deve ser benção primeiro na vida da sua esposa e filhos, e que isso afeta a sua relação com Deus (1 Pedro 3:7). Isso faz o homem sair da cômoda posição de ser apenas um provedor financeiro, e ele passa a ser o sacerdote de sua família.
Cabe ao ministério de homens proclamar que o texto bíblico não mudou, que as responsabilidades do homem junto a Deus, sua família e à sociedade estão muito bem definidos, ainda que a forma de aplicação possa ter evoluído. A Bíblia continua atual, e é o papel do teólogo apresentar essa realidade a toda a igreja e à sociedade.
24 de julho de 2024
Grato pela sua reflexão. Como dizia o Robinson Cavalcanti: “Toda teologia é condicionada!”
“Jesus Cristo é o homem completo em quem Deus habitou completamente. Se houve um homem que foi tentado a ser autossuficiente, esse homem foi Jesus. Se houve um homem que foi tentado a ser orgulhoso, esse homem foi Jesus. Se houve um homem que foi tentado a usar seus poderes em interesse próprio, esse homem foi Jesus.” (Eugene Peterson)
Jesus é o nosso modelo e a única chance de refletirmos a imagem de Deus nas nossas representações.