Esta semana me mudei para um novo apartamento. Depois de morar 2 anos em um apartamento no segundo andar, voltei a morar em um andar alto novamente. Estava ansioso por isso, a vista aqui do alto é muito bonita. Não que o apartamento no segundo andar fosse ruim. Mas ele fica altura da copa das árvores, o que limita bastante a visão, especialmente do mar e das montanhas. No segundo andar consigo olhar até uma distância de uns 200m apenas. Do novo apartamento tenho uma vista livre de mais de 10km!

Antes de mudar comentei isso com minha filha, e ela comentou que gosta mais de morar em andares baixos, pois “é mais próximo da vida das pessoas”. Quando ela comentou isso achei muito estranho e até discordei. Pensei comigo: “isso é coisa de arquiteto”. Mas agora vejo que é verdade.

O andar alto tem uma vista sensacional, mas você não vê mais as pessoas. Na verdade, você até as vê, mas não consegue identificar quem são, sua fisionomia. Fica parecendo “tudo formiguinhas andando lá em baixo”. Não é possível identificar se é um idoso fazendo sua caminhada ou um jovem querendo manter a forma. Se é um grupo de amigos ou uma família, com um filho emburrado caminhando mais atrás. Se é alguém fazendo um passeio de bicicleta ou um entregador trazendo uma encomenda. Concordei com minha filha: o andar alto nos distancia das pessoas.

Isso me faz pensar no papel daquele que cuida de pessoas, daquele chamado por Deus para dirigir um grupo, um culto, uma igreja, sobre o qual tem responsabilidade espiritual. Quando você está “em um andar alto”, você vê longe, vê coisas belas, vê o movimento. Grandes planos são feitos. Define-se, onde se pode ou onde se quer chegar. Mas corre-se o risco de perder a visão individual, a visão “da vida das pessoas”.

Cada pessoa é única, com desafios e potencialidades únicas. Não é possível ver isso quando se está lá em cima. É preciso descer até o térreo, sair na rua, encontrar as pessoas, entender suas necessidades e capacidades, seus medos e sua coragem, para poder novamente subir ao 19º andar e olhar para longe.

O líder que só fica no andar alto perde o rumo, se afasta da realidade de sua comunidade. Pensa que a sua visão de um ponto superior é suficiente para lhe dar a direção a seguir, definir os alvos a serem atingidos e a velocidade em que devem ser ultrapassados. O líder que desce ao térreo é o líder que anda no meio das pessoas, sabe seus nomes, conhece suas famílias. E assim é capaz de, voltando para o alto, identificar com sabedoria a direção a ser seguida.

Não nos deixemos fascinar pela beleza da vista do alto. As pessoas estão lá embaixo.