Nos últimos dias a ANATEL divulgou informações sobre o edital para o leilão do 5G, indicando a obrigatoriedade de uso de 5G release 16. Isso gerou algum movimento no mercado, especialmente das operadoras.
Mas afinal, o que é o 5G release 15 e release 16?
Antes é preciso entender quais os requisitos de uma rede 5G. No artigo “O que é 5G?”, expliquei que uma rede 5G tem, entre seus principais requisitos:
- taxas de transmissão muito altas
- tempo de transmissão muito baixo
- baixo consumo de bateria
Neste outro artigo, expliquei como funciona a construção das especificações dentro do 3GPP, que é o órgão que gera as padronizações relativas à redes móveis, mundialmente. Todos os grupos de trabalho (working groups) definem requisitos e funcionalidades que devem ser atendidos, e esses requisitos são agrupados em releases. Cada release tem uma data de definição de requisitos, e um tempo de desenvolvimento. Hoje o 3GPP já está trabalhando nas definições associadas ao release 17 e 18, que devem estar terminadas nos próximos anos.
Uma rede móvel é composta basicamente por dois conjuntos de equipamentos: a rede de acesso e o núcleo da rede. A rede de acesso é composta pelos equipamentos de rádio e antenas, que são colocadas em torres e no topo dos prédios, e que se comunica com os telefones. O núcleo da rede, apesar de não ser uma parte tão visível da rede, tem um papel fundamental na construção dos serviços. É nele que estão concentrados os serviços de autenticação, autorização, cobrança, priorização entre outros. O núcleo da rede é composto por diversos sistemas e funções que trocam informações constantemente, de forma a garantir a continuidade do serviço que é oferecido pela rede de acesso.
Para acelerar a implementação das redes 5G, uma primeira fase foi proposta no release 15, que é o uso do núcleo de rede instalado para atendimento às redes 4G. Essa utilização do núcleo existente já permite que se atinja as velocidades previstas para o 5G, mas ainda não traz as vantagens de baixa latência e baixo tempo de transmissão. As redes 5G release 15 são chamada de 5G NSA (5G Non-Stand Alone).
O atendimento aos requisitos de baixo tempo de transmissão (baixa latência) e baixo consumo de bateria estão sendo atendidos no release 16. Para atender a esses requisitos é necessária a substituição de equipamentos no núcleo da rede, ou seja, nos equipamentos que recebem e processam os sinas que são coletados da rede de acesso. Essa construção é chamada de 5G SA (5G Stand-Alone). Neste caso não são aproveitados equipamentos das atuais redes 4G.
Como o release 15 foi definido em uma etapa anterior, a grande maioria das operadoras que já implementou uma rede 5G o fez usando a arquitetura 5G NSA. O mesmo é válido para os telefones, que foram preparados para essa arquitetura. Estas operadoras com certeza farão a evolução para uma rede 5G SA mais à frente, para atender à totalidade dos requisitos propostos para o 5G. No Brasil, as operadoras que tem redes 5G até o momento estão usando a arquitetura 5G NSA.
A ANATEL, no seu edital para o leilão 5G, está inserindo a obrigatoriedade da aplicação do release 16, ou seja, o 5G SA. Segundo a ANATEL, é importante que as redes no Brasil já implementem diretamente o release 16, avançando para um nível de recursos mais completo, facilitando o uso destas redes para serviços de IoT. Por outro lado esse salto direto para o release 16 vai exigir investimentos que as operadoras planejavam fazer ao longo do tempo, e não imediatamente.
Os argumentos são fortes de ambos os lados. Agora é aguardar para ver o resultado.
12 de fevereiro de 2021
Parabéns pelo artigo. Muito esclarecedor e importante para ser estudado e analisado. Valeu!