No artigo O que é 5G? descrevi o que vem a ser essa nova geração de telefonia celular e suas diferenças para as gerações anteriores. Neste artigo vamos ver quem “inventou” o 5G.
A resposta é simples: O 5G não é uma “invenção”, mas sim a definição da padronização de um conjunto de técnicas e tecnologias que irão permitir atingir os requisitos principais que foram propostos para essa nova geração de redes móveis.
Não há como o 5G ser definido ou “criado” apenas por uma empresa. Uma rede móvel é construída juntando-se vários componentes de vários fornecedores diferentes. Hoje há uma infinidade de fabricantes de celulares e de equipamentos de rede que funcionam ou “inter-operam” tranquilamente uma vez que há uma forte padronização definindo cada detalhe da comunicação entre esses componentes.
Para exemplificar esse conceito, abaixo está a figura da arquitetura oficial de uma rede 5G. Observe que há uma grande quantidade de “caixinhas”, cada uma com uma função diferente, interagindo com as outras para permitir e controlar o serviço. Em uma rede, cada uma destas caixas pode ser de um fornecedor diferente. O funcionamento de todo o conjunto é garantido pela padronização de todas as interfaces.
Essa padronização é mantida por uma organização chamada 3GPP (3rd Generation Partnership Project), que foi criada à época da especificação da terceira geração (por isso o “3G”), e se manteve como principal órgão de padronização para as redes móveis. Fazem parte do 3GPP centenas de empresas, grandes e pequenas, todas colaborando na definição da padronização. O resultado é publicado no site (http://3gpp.org), e fica disponível para qualquer empresa que queira fazer soluções compatíveis com o padrão. Os grupos de trabalho se reúnem periodicamente para definir cada um dos aspectos da rede e a sua evolução.
Estes grupos de trabalho se organizam sobre três grandes temas:
- Rede de acesso – ou seja, os equipamentos que fazem a transmissão e recepção, e estão nas torres (no popular)
- Rede Núcleo e Terminais – equipamentos e processos de controlam o acesso à rede, autenticação, autorizações, consumo de saldo de dados.
- Aspecto de Sistema e Serviços – define os requisitos de funcionamento e a integração de todos os módeulos
Existem empresas com maior representatividade nos grupos de trabalho – justamente as empresas que têm mais recursos de pesquisa e desenvolvimento, e ajudam a dar as principais direções da tecnologia. Entre elas estão Nokia, Huawei, Ericsson, Cisco, Apple, Samsung, e também diversas operadoras ao redor do mundo, como Verizon, TIM, Vivo (aparece como Telefónica), T-Mobile. Mas nenhuma delas é “dona” da padronização. A lista completa das empresas e envolvidas pode ser vista aqui: https://webapp.etsi.org/3gppmembership/QueryForm.asp
Assim, pode-se dizer que todo o esforço de padronização do 3GPP é colaborativo, e é resultado de extensas discussões. Algumas empresas, pela sua capacidade de investimento e pesquisa, conseguem se antecipar e lançar produtos antes das outras, mas isso não quer dizer que estas “inventaram” o 5G, mas sim que foram mais rápidas em implementar o que está proposta na padronização.
Aqui vale um comentário adicional: você vai observar a ausência de grandes empresas americanas no 3GPP. Isso se deve em fato ao caráter essencialmente colaborativo dos trabalhos desta organização. Embora cada empresa tenha os seus interesses, é necessário que haja o compartilhamento de informações, experiências e opiniões para que a padronização aconteça. A cultura americana (ou “estadounidense”, se preferir), é protecionista na sua essência, com uma ênfase muito grande no segredo industrial e nas patentes. Essa forma de trabalho não ajuda na construção de padrões abertos. Escrevi sobre isso no artigo “Os irmãos Wright, Santos Dumont e o celular“.
18 de novembro de 2020
Gostei muito