Tive a oportunidade de atuar como voluntário nas Olimpíadas realizadas no Rio de Janeiro. Foi uma experiência única. Das muitas coisas que vi, tirei três profundas lições espirituais.
A primeira lição foi sobre como Deus nos vê.
Atuei como voluntário no tênis de mesa, na equipe de apoio aos atletas que estavam nas áreas de treinamento e aquecimento. Porém não me considero um “mesatenista”, mas sim um “pingpongueiro”. Ao contrário dos outros voluntários que trabalharam comigo, não conhecia os atletas que se destacam nessa modalidade. Assim, com alguma frequência ouvi frases do tipo: “Caramba, olha lá o Fulano de Tal, tantas vezes campeão europeu”, ou “Esse que passou atrás de você está a tantos anos sem perder um campeonato mundial”. Eu porém, na minha ignorância, mal era capaz de identificar quem eram atletas e quem eram os auxiliares das equipes.
Pode não parecer muita coisa, porém considere que o tênis de mesa é um dos principais esportes na China e Japão, e estes atletas são admirados por mais de um bilhão de pessoas.
Isso me fez pensar sobre a forma que Deus nos vê. Todos somos iguais diante dele, independente de nossos cargos, conquistas, talentos. Tudo o que fizemos ou conquistamos não nos dá nenhuma prioridade ou privilégio diante d’Ele, pois Ele ama a todos da mesma forma. Mesmo os que não o conhecem nem o buscam.
O grande desafio é nós conseguirmos ver as pessoas com os mesmos olhos que Deus vê. Deixar de lado o que é exterior e amar as pessoas de uma forma igual.
A segunda lição tem a ver com a preparação dos atletas.
Todos eles estavam sempre envolvidos com alongamentos doloridos antes e depois dos treinos, e bolsas de gelo nos ombros e outras articulações. E esse processo já acontecia mesmo antes do jogo ou treino. A dor que o atleta sentia não vinha de uma acidente ou uma queda durante o jogo, mas do próprio processo de treinamento e preparação para o jogo.
Quando eu ou você praticamos algum esporte de forma amadora, normalmente nós vamos até o limite do conforto, ou seja, “vou correr um pouco mas sem forçar”, ou “vou jogar uma bola para aliviar o estresse”. E quando cansamos da atividade saímos para tomar um banho quente e fazer um lanche. Se você é alguém que leva o esporte um pouco mais a sério, você vai até o limite da dor. O seu jogo dura até que a perna comece a doer, joga tênis até sentir aquela dor no punho. Você chegou ao seu limite, e sabe que se passar deste ponto pode se machucar. Sábia decisão. Mas os atletas de alto desempenho superam estes dois limites e treinam à exaustão. Não importa se eles tem vontade ou não, se está doendo ou não. É preciso chegar à velocidade máxima, ao saque perfeito, melhorar os reflexos.
É inevitável lembrar da comparação que Paulo faz de nossa vida espiritual com a vida de um atleta, porém na aplicação do conceito muitas vezes paramos no limite do conforto. Lemos a Bíblia quando temos disposição, oramos enquanto os joelhos não doem. “Caminhar mais uma milha”, cansa. Abrir mão dos nossos desejos é chato …
Deus nos prometeu vitórias espirituais, mas nunca falou sobre uma vida confortável. Jesus prometeu a companhia dele na dor, e não a ausência de dor. Como atletas espirituais, ainda não chegamos à exaustão. Estamos parando quando o conforto acaba. Não deve ser assim.
A terceira lição eu aprendi na abertura das Olimpíadas.
Quantas cores de pele diferentes, e cada cor com vários tons. Cabelos longos, curtos, claros, escuros, lisos, ondulados. Fiquei maravilhado com a diversidade de cores nas bandeiras, tão diferentes e representando as riquezas de cada nação. As culturas sendo representadas nos diferentes trajes – longos e curtos, discretos e coloridos, trajes de gala ou informais. Dezenas de tipos de chapéu. Centenas de maneiras diferentes de se comunicar, de se expressar.
No Salmo 96 a Bíblia nos diz que todas nações irão louvar a Deus – imagino que cada uma o fará de uma forma diferente, de acordo com a sua cultura. O céu vai ser um lugar muito divertido … 😀
Assim …
Vamos aprender a ver as pessoas como Deus as vê.
Vamos abrir mão do nosso conforto para conhecer a Deus.
Vamos aprender com a beleza da diversidade criada por Deus.
Deus também me ensinou no meu trabalho nas Paralimpíadas. Leia nesse texto.
27 de agosto de 2016
Gostei bastante das suas observações, principalmente sobre ficarmos no limite do conforto como atletas espirituais.
25 de agosto de 2016
Excelente David!
24 de agosto de 2016
Obrigado pela excelente reflexão. A sua vida me inspira. Às vezes esquecemos que a vida já é uma olimpíada e que o belo e o apelo só podem serem vistos “de dentro”, quando participamos intensamente…sendo mesmo um voluntário executando com tudo que tem aquilo para qual foi designado.
24 de agosto de 2016
Muito bom “Xará”…
Muito legal a forma como você olhou, viu, percebeu e interpretou a mensagem e lição de vida que Deus te proporcionou nesta sua experiência como voluntário.
Preciso praticar mais leitura bíblica à exaustão. Estou indo apenas até o limite do meu conforto.
Obrigado e um grande abraço…
Davião
24 de agosto de 2016
Amigo David, David amigo que tive o grato prazer de conhecer e conviver, mesmo por curto espaço de tempo, tempo este suficiente para dizer: você é o cara… parabénszaço pelo dom da escriba…abs Eleilson
24 de agosto de 2016
Sempre lembro do céu em cerimônias como estas, da abertura… choro demais. Muito legal esse comentário sobre a dor dos atletas. Como fiz ginástica olímpica e rítmica, eu fiquei de olho nos joelhos das atletas, principalmente as da rítmica, todas elas com muitas escoriações e hematomas nos joelhos. E as da olímpica, usavam tensores até nos cabelos (rsrs), sim eles fazem aquilo enquanto sentem dor, totalmente, é só lembrar da cara vermelha do Zanetti antes de pular. A dor é companheira certa da vitória.
24 de agosto de 2016
Deus continue te abençoando, Davizinho. Abraços, Wesley